Se você forçar a memória para lembrar quais as empresas que mais se destacavam há alguns anos em diversos setores, vai perceber que algumas continuam fazendo sucesso, mas outras simplesmente desapareceram.

Com o avanço da tecnologia e as constantes inovações que não param de acontecer, é natural que alguns serviços se tornem obsoletos e sejam substituídos; porém, é importante estarmos atentos às empresas de sucesso que encontraram obstáculos em seu caminho que as levaram à falência ou ao esquecimento. Esse exercício é fundamental para entendermos que tipos de situações devem ser evitadas para não repetirmos erros que já foram cometidos.

Para facilitar, hoje trago uma listagem de empresas de renome que desapareceram do mundo dos negócios e conto um pouco sobre cada uma delas. Acompanhe comigo!

1. Arapuã

Fundada no interior de São Paulo em 1957, foi considerada uma das maiores varejistas de eletrodomésticos do Brasil na década de 90, rivalizando com Casas Bahia e Ponto Frio. Chegou a ter mais de 200 lojas pelo país, mas em 1998 começou a ter dificuldades, tendo sua falência decretada pela Justiça em 2003 pela primeira vez e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) definitivamente em 2009.

Não dá para citar apenas um motivo que levou a empresa a chegar a uma dívida de 700 milhões de reais junto a seus fornecedores. Foi um conjunto de erros e circunstâncias adversas que resultaram nos problemas enfrentados.

A primeira explicação tem a ver com a falta de preparo para enfrentar as mudanças no cenário com a implantação do Real; antes disso, o crédito ao consumidor estava praticamente desaparecido e as vendas a prazo eram divididas em, no máximo, quatro parcelas — mas com a retomada da capacidade de planejamento que a nova moeda trouxe, eletrodomésticos passaram a ser parcelados até em 36 vezes.

A questão é que simultaneamente à redescoberta do crédito, os consumidores passaram a conviver com desemprego em alta e salários corrigidos abaixo da inflação. A empresa passou a ter um assombroso número de inadimplência e se viu pressionada a sacrificar suas margens de lucro, concedendo altos descontos. Percebe-se que a empresa descuidou de um problema crucial: preocupada em consolidar-se como a maior do setor, não compreendeu que o cenário estava mudando e já não era mais tão favorável.

Em resumo, pode-se dizer que o excesso de otimismo foi um dos seus principais erros.

2. Mabe

A empresa mexicana fundada em 1946, fabricante de eletrodomésticos de linha branca – no Brasil, responsável pelas marcas GE, Continental e Dako –, começou a passar por dificuldades em 2013, quando entrou com o pedido de recuperação judicial. Em 2016, a empresa decretou falência no México e dois meses depois a filial no Brasil também faliu, deixando milhares de funcionários sem receber seus direitos trabalhistas.

Existem denúncias de trabalhadores da empresa de que acidentes de trabalho aconteciam com frequência nas unidades brasileiras em consequência do aumento no ritmo de trabalho e da terceirização — que foi uma medida de corte de custos, deixando precários os setores da linha de produção.

Sabe-se também que a Mabe mundial estava há um tempo com um fluxo de caixa negativo e alto índice de endividamento, ou seja, gastando mais do que arrecadando. Por causa disso, a Mabe multinacional reduziu participação na Mabe Brasil, desfazendo-se de ativos para reduzir custos de produção e recuperar seu caixa para novos investimentos e estratégias de aumento na lucratividade e produtividade. Um caso de manobras e redução de gastos que custou a própria permanência da empresa no mercado.

3. Manchete

Fundada em 1983 e extinta em 1999, a rede Manchete foi uma emissora de televisão que passou por sucessivas crises por causa dos altos investimentos que fez. Entre 1995 e 1997, conseguiu emplacar telenovelas, programas esportivos e desenhos japoneses de sucesso, demonstrando que estava se reerguendo; mas mesmo com essas estreias bem-sucedidas, os juros de suas dívidas aumentavam a tal ponto de superar o patrimônio da emissora.

Em 1998, outra crise se instalou devido a falhas de administração, atraso de salários e crescente queda na audiência. Após a Copa do Mundo de 1998 o problema se aprofundou, com queda de faturamento de 40% e mais de 500 funcionários demitidos. A Manchete investiu pesado na transmissão da Copa na França, mas teve fraco desempenho, especialmente por não ter tradição em transmissões de futebol, não possuir uma equipe fixa de locutores e comentaristas e por não possuir uma programação anterior que impulsionasse a audiência.

O fracasso da emissora deu-se por vários fatores, entre eles má gestão, falta de conhecimento na área televisiva e utilização de capital proveniente de empréstimos. Mesmo com salários atrasados e dívidas que não paravam de crescer, a rede Manchete continuava fazendo altos investimentos em produções arriscadas.

Em 1999, a emissora saiu do ar, dando lugar à Rede TV!.

4. Unimed Paulistana

Com mais de 700 mil clientes e graves problemas financeiros – dívidas que ultrapassavam R$ 200 milhões –, a empresa teve sua liquidação decretada pela ANS (Agência Nacional de Saúde) em 2015, deixando claro como a crise atual tem afetado o setor da saúde.

Entre os motivos do fracasso da empresa, têm sido apontados problemas de gestão e suspeitas de ilegalidades, como pagamentos suspeitos a certas empresas e sonegação fiscal. Sabe-se que em 2012, os médicos cooperados (na época eram 2,5 mil profissionais) tiveram de realizar um aporte emergencial para quitar dívidas no valor de 90 milhões, através de cobranças mensais entre 300 e 4 mil reais ao longo de 16 meses. Por causa disso, vários médicos debandaram e muitos pacientes ficaram insatisfeitos.

Apesar dessa situação, em 2014, a direção da empresa realizou uma “excursão” com um grupo de 138 corretores, com direito a acomodação em luxuoso hotel 5 estrelas; a viagem para a África do Sul durou cinco dias e custou aproximadamente 1,2 milhão de reais. Além da peculiar estratégia de administração, o aumento assustador da dívida tributária da empresa é sem dúvida um dos principais fatores de seu fracasso, já que até 2008 o pagamento de impostos como o ISS (Imposto Sobre Serviços) não era realizado.

5. Vasp

Fundada em 1933, a Viação Aérea de São Paulo não conseguiu sustentar seu próprio crescimento e na década de 90 começou seu declínio, reduzindo sua frota, cancelando rotas internacionais e deixando de pagar salários de funcionários, entre outras obrigações.

Em 2004, precisou enfrentar sua primeira paralisação de funcionários e a dificuldade em abastecer suas aeronaves. Em 2005, sua autorização de operação foi cassada pelo Departamento de Aviação Civil (DAC). Até 2008, a empresa esteve em processo de recuperação judicial, na tentativa de retornar suas operações, mas depois disso teve sua falência decretada.

É difícil apontar as causas que levaram uma empresa desse tamanho à falência, mas podemos citar o fato de terem passado por um processo de privatização e depois por um processo de intervenção na Justiça do Trabalho — justamente durante um momento econômico desfavorável.

Como foi possível perceber com os casos que citei, engana-se quem pensa que apenas empresas novas que ainda não se consolidaram no mercado correm o risco de falirem ou não alcançarem êxito. Grandes empresas, com vários anos de existência e até mesmo chegando a serem líderes de mercado, não têm garantia de que nunca fecharão as portas.

Esses são apenas alguns exemplos de empresas de sucesso que atuaram durante vários anos e, por mais improvável que pudesse parecer, acabaram chegando a quadros irreversíveis, principalmente por causa de problemas financeiros. Para evitar isso, a palavra-chave é organização. Por isso te convido a ler o artigo onde explico melhor como organizar o financeiro de uma empresa. Não deixe de conferir!

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