A era do líder capa de revista, super-herói, capaz de mover montanhas, parece ter ganhado mais potência com a popularização das redes sociais. A sensação é de que todos, e cada um, querem ser influenciadores, com dezenas de milhares de seguidores, é como se as mídias sociais tivessem aberto uma possibilidade para que cada um possa ser capa da sua própria revista. Exacerba-se o individualismo, e as características estritamente pessoais, como que em uma feira de competências, habilidades e vaidades.
É um movimento paradoxal, uma vez que a imagem e conceito do “executivo-líder” tem origem no primeiro quarto do século passado, com o amadurecimento das grandes corporações hierarquicamente estruturadas. Em uma realidade (relativamente) mais simples, com frequência menor de mudanças, as empresas foram desenhadas e operadas como uma máquina, um mecanismo que busca eficiência, otimização e controle.
Um século depois, porém, os tempos são outros, cada vez mais turbulentos, instáveis e imprevisíveis, especialmente por conta de dois fatores:
- a evolução tecnológica que viabilizou a hiper-conectividade e um caldo extremamente complexo de interação de agentes;
- o modelo mental de crescimento sem fim (exponencial?) que fez emergirem novos movimentos e contextos sociais e ambientais.
Neste cenário o desafio mais importante para as empresas é transformar-se de um mecanismo eficiente para um organismo adaptativo.
Adaptação não ocorre por determinação autoritária de um líder, tampouco pela soma do pensamento de vários líderes. Adaptar-se requer ler e compreender a realidade em que a empresa opera, manufaturar informações na forma de conhecimento aplicável, implementar mudanças de modo ágil. Nada disso é possível para indivíduos independentes. Não é possível compreender a complexidade da operação ou encontrar as soluções mais eficientes em nível individual.
A adaptação tem como condição a construção e desenho de um ambiente que possibilite a emergência da inteligência coletiva. Neste ambiente o agente principal de ação é o tecido de relações humanas, que atua sob um conjunto de premissas:
- O grupo é que aprende a aprender (e não somente aprende).
- A resiliência é característica de um time que se apóia, muito mais do que indivíduos valentes.
- A interação na rede de pessoas é fundamental para que emerjam soluções inovadoras.
- Uma comunidade guiada por um propósito, que compartilha princípios, produz decisões brilhantes e maduras.
Observando estas premissas fica evidente que o pilar fundamental é coletivo, plural, e não individual, singular. Na era do mecanismo tínhamos pessoas motivadas pelo individualismo, crentes na hierarquia que desdobra decisões. Na era do organismo precisamos de uma rede que transforme a própria organização, precisamos desenvolver a liderança como atributo coletivo dos times e redes que compõem a organização. Quem sabe como sub-produto deste amadurecimento tenhamos ainda uma dose maior de humildade, integridade e responsabilidade nas nuvens digitais sociais.