A era do líder capa de revista, super-herói, capaz de mover montanhas, parece ter ganhado mais potência com a popularização das redes sociais.  A sensação é de que todos, e cada um, querem ser influenciadores, com dezenas de milhares de seguidores, é como se as mídias sociais tivessem aberto uma possibilidade para que cada um possa ser capa da sua própria revista. Exacerba-se o individualismo, e as características estritamente pessoais, como que em uma feira de competências, habilidades e vaidades.

É um movimento paradoxal, uma vez que a imagem e conceito do “executivo-líder” tem origem no primeiro quarto do século passado, com o amadurecimento das grandes corporações hierarquicamente estruturadas. Em uma realidade (relativamente) mais simples, com frequência menor de mudanças, as empresas foram desenhadas e operadas como  uma máquina,  um mecanismo que busca eficiência, otimização e controle. 

Um século depois, porém, os tempos são outros, cada vez mais turbulentos, instáveis e imprevisíveis, especialmente por conta de dois fatores: 

  1. a evolução tecnológica que viabilizou a hiper-conectividade e um caldo extremamente complexo de interação de agentes;
  2. o modelo mental de crescimento sem fim (exponencial?) que fez emergirem novos movimentos e contextos sociais e ambientais. 

Neste cenário o desafio mais importante para as empresas é transformar-se de um mecanismo eficiente para um organismo adaptativo. 

Adaptação não ocorre por determinação autoritária de um líder, tampouco pela soma do pensamento de vários líderes. Adaptar-se requer ler e compreender a realidade em que a empresa opera, manufaturar informações na forma de conhecimento aplicável, implementar mudanças de modo ágil. Nada disso é possível para indivíduos independentes. Não é possível compreender a complexidade  da operação ou encontrar as soluções mais eficientes em nível individual. 

A adaptação tem como condição a construção e desenho de um ambiente que possibilite a emergência da inteligência coletiva. Neste ambiente o agente principal de ação é o tecido de relações humanas, que atua sob um conjunto de premissas:

  • O grupo é que aprende a aprender (e não somente aprende).
  • A resiliência é característica de um time que se apóia, muito mais do que indivíduos valentes. 
  • A interação na rede de pessoas é fundamental para que emerjam soluções inovadoras.
  • Uma comunidade guiada por um propósito, que compartilha princípios, produz decisões brilhantes e maduras. 

Observando estas premissas fica evidente que o pilar fundamental é coletivo, plural, e não individual, singular. Na era do mecanismo tínhamos pessoas motivadas pelo individualismo, crentes na hierarquia que desdobra decisões. Na era do organismo precisamos de uma rede que transforme a própria organização, precisamos  desenvolver a liderança como atributo coletivo dos times e redes que compõem a organização. Quem sabe como sub-produto deste amadurecimento tenhamos ainda uma dose maior de humildade, integridade e responsabilidade nas nuvens digitais sociais.

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